segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Lixo é bom

Uma forma bacana de reutilização
Um assunto muito recorrente nos dias de hoje é a gestão do lixo e como isso é um grande problema para as pessoas. Mas vendo por outro lado, será mesmo que essa questão é um problema ou nós a tornamos um problema? Quando pensamos numa melhor gestão de resíduos, a primeira coisa que vem a mente é reciclagem, mas não devemos esquecer que, segundo dados da Associação  Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - Abrelpe, mais da metade (51,4%) do lixo produzido pelos brasileiros é de natureza orgânica. Isso significa quase 32 milhões de toneladas de restos de comida indo para o lixo por ano.

A primeira conclusão preocupante desses dados é o desperdício de alimentos. Generalizando, 32 milhões de toneladas de alimentos seria suficiente para alimentar mais de 11 bilhões de pessoas - 4 bilhões a mais do que a população mundial.

A segunda conclusão preocupante é que esses 32 milhões de matéria orgânica que são considerados um problema urbano e jogados em aterros, na verdade são uma fonte de riqueza! Dados dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável – Brasil 2012, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que em 2010 foram utilizadas quase 10 milhões de toneladas de fertilizantes no país. Ora, aprendi já nos meus primeiros anos de colégio que restos de alimentos são fertilizantes. Isso significa então que não só encontramos um destino para metade do lixo produzido no brasil, como também nunca mais precisaremos gastar um centavo produzindo fertilizantes industriais? Bem, de certa forma é isso ai!

Agora sobram os outros 50% dos resíduos que não são orgânicos e ai que entram os recicláveis: quase 32% do nosso lixo são materiais recicláveis. Apesar de haver alternativas melhores que a reciclagem (das quais eu pretendo abordar mais pra frente), isso resolve temporariamente o problema do lixo indo parar nos aterros, que é o objetivo desse post.
Lixo e esgoto - tudo junto e misturado

Ao fim sobram apenas 16,7% do total, ou seja apenas 10 dos 62 milhões de toneladas originais. Isso significa que com medidas simples e lucrativas é possível reduzir nosso lixo em mais de 6x! Acho que agora é possível entender porque o lixo pode ser uma solução e não um problema. Devemos ainda considerar que apesar dessa parcela final do lixo não poder ser reciclada ou transformada em fertilizante, ela ainda pode ser reutilizada, que é até uma solução até melhor do que a reciclagem.

Outra questão que merece ser levada em consideração aqui é o esgoto. Esse tipo de resíduo é um problema socioambiental que também pode ser transformado em solução. Nossas fezes e urina, assim como os restos de alimentos, também são resíduos orgânicos e, consequentemente ótimos fertilizantes. Isso significa então que tratando nosso esgoto como adubo, vamos produzir fertilizantes e limpar nossos cursos d'água sem pagar nada por isso e de quebra ainda economizar milhões em saúde pública por conta das doenças que o esgoto não tratado gerava? Sim! De certa forma é isso ai!

Uma composteira inteligente que
dispensa cuidados especiais
Se você teve paciência de ler até aqui, essa é a parte em que eu me redimo. Confesso que não acho que essas sejam todas as soluções para o problema dos resíduos e o que escrevi é, de certa forma, exagerado, generalizado e até um pouco utópico. É, contudo, uma provocação para pensarmos a questão de uma forma diferente. Logicamente o governo brasileiro não transformará todo nosso resíduo orgânico em adubo da noite para o dia, mas se cada um dera sua contribuição é possível minimizar muito o problema.

Um exemplo: No meio de tantos lançamentos imobiliários megalomaníacos nas grandes capitais, somos atraídos por condomínios super equipados com geringonças que nunca vamos usar, mas esquecemos de perguntar como o esgoto do empreendimento será tratado. Outro exemplo: um sistema de compostagem caseiro é barato, prático e trás muitos benefícios. Faça o teste e veja que o que realmente temos que jogar fora não passa de um punhado de papéis engordurados. E em troca temos adubo para cultivar nossas próprias hortaliças. A questão é que se cada um se preocupasse com a gestão do seu próprio resíduo, reduziríamos esse bicho de 7 cabeças em algo bem mais fácil de ser gerido pelo poder público. Não devemos esquecer que ao colocar sacos e sacos de lixo para fora de casa, eles não desaparecem magicamente durante a noite.

Esses são só alguns pontos da questão e já servem pra mostrar que existem soluções práticas e lucrativas para problemas reais. Tudo depende de analisarmos isso com um olhar crítico e despido de preconceitos. As respostas estão ai, cabe a nós sermos pioneiros nessas ações que só nos trazem bem estar e maior independência de políticas públicas e de bens e serviços privados.

Deixo por fim, a curta do diretor Jorge Furtado, Ilha das Flores:


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